Gado Nelore

Origem da raça Nelore

A história da raça Nelore (também conhecida como Ongole) tem seu início cem mil anos antes de Cristo, quando os primeiros animais foram levados para o continente sul da Ásia pelos arianos.

O embarque dos primeiros animais para o Brasil foi realizado em Nelore, um distrito da antiga Provincia de Madras, situado no Estado de Andra, na Índia. 

A maioria do rebanho indiano é formado por animais mestiços, de tipos variáveis, devido à falta de divisões de pasto e as grandes distâncias que percorrem buscando alimentos durante a época de escassez. Por ser considerado um animal sagrado pelos indianos, o boi é utilizado principalmente para transporte e produção de leite. O povo indiano é vegetariano, por isso a população tem o leite como única fonte de proteína de origem animal. 

Manoel Ubelhart Lemgruber conheceu a raça durante uma visita no zoológico de Hamburgo, na Alemanha, importando um casal de animais da raça em 1878. A raça foi se expandindo, primeiramente no Rio de Janeiro, depois São Paulo e por último Minas Gerais. 

O melhoramento da bovinocultura de corte ocorre em todas as raças, mas no Brasil a raça que tem ganhado destaque é a Nelore. O rebanho Nelore brasileiro descende de poucos genearcas, e a maioria deles foram importados da Índia, a partir da década de 1960. As últimas grandes importações de reprodutores ocorreram entre os anos de 1960 e 1962. Durante esse período, grandes genearcas desembarcaram em Fernando de Noronha, sendo submetidos a quarentena. Os genearcas eram Taj Mahal, Golias, Rastã, Checurupadu, Godhavari, Akasamu e Padhu. Elese são a base formadora das principais linhagens do Nelore que conhecemos hoje. Porém, ao utilizar esses genearcas e seus descendentes, houve aumento do processo de endogamia nos animais, necessitando atenção e ações corretivas dos criadores, para que a raça não perca as vantagens em relação a rusticidade, fertilidade e produtividade. 

Também contribuiu para a evolução da raça a criação do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (chamado Nelore Brasil), em abril de 1988, cuja importância foi e é enorme para a cadeia produtiva da carne bovina brasileira).

Apesar de terem sido usados para a exploração leiteira em sua origem, a raça passou por diversos e intensos processos de melhoramento genético no Brasil, e foi direcionada exclusivamente à produção de carne. 

Características do Nelore

Musculatura, porte e pelagem

O Nelore em si apresenta características como:

- Estado geral vigoroso e sadio;

- Ossatura leve, forte e bem desenvolvida;

- Musculatura compacta;

É também conhecido por ter um temperamento dócil, com algumas exceções, porém sempre demonstra ser um animal muito ativo. 

Possui pelagem cinza clara ou branca, onde normalmente, os bois nelore apresentam a pelagem mais escura nas regiões do cupim e pescoço. Os pelos são claros, grossos e curtos. Sua pele é bastante oleosa e escura, porém, flexível e macia. 

Sua cabeça possui formato de esquife, sua cara formato estreito, fronte descarnado, apresentando uma depressão alongada denominada goteira, onde é mais acentuada nos machos (linha média no crânio, sentido longitudinal, sub-convexo). 

Adaptabilidade ao clima brasileiro

O boi Nelore se adaptou muito bem ao clima brasileiro por possuir uma pelagem grossa, o tornando mais resistente a parasitas, fazendo com que não consigam se alojar facilmente no corpo. Esse animal também possui uma maior resistência para calor, podendo ser criado em regiões mais quentes do país como, por exemplo, o nordeste brasileiro. 

Outras características físicas do Nelore

Constata-se também que seu trato digestivo é 10% menor comparado aos seus antecedentes europeus. Possui chifres de cor escura, firmemente implantados no crânio, de formato cônico e mais grossos na base que acompanham o perfil da cabeça nascendo para cima e podendo dirigir-se para fora, para trás, para cima ou para cima

É possível diferenciar macho e fêmea através de algumas características como a musculatura compacta e a barbela. Nos machos a musculatura é bem compacta e barbela solta pregueada, umbigo curto, prepúcio e bainha leves; enquanto as fêmeas possuem a barbela menos desenvolvida e, assim como sua musculatura, seu úbere é pequeno, com tetas funcionais e de tamanho médio. O cupim nas fêmeas é menor e menos desenvolvido quanto a forma, diferente dos machos, que possuem o cupim em formato de castanha de caju, bem apoiado no dorso e bem implantado a cernelha. 

Outro diferencial está no peso final do animal adulto, onde vemos que as fêmeas podem chegar a 800 kg, enquanto os machos chegam facilmente em 1000 Kg.

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Fêmea (à esquerda) e macho (à direita) da raça


Reprodução

O Nelore apresenta um ciclo reprodutivo longo, geralmente com um descendente a cada parto, ou seja, uma vaca é capaz de dar um filhote a cada ciclo reprodutivo – mesmo assim há diversos relatos de partos gemelares. Foram criadas diversas soluções tecnológicas para o melhor aproveitamento do potencial reprodutivo dessa raça. 

Uma dessas soluções é Inseminação Artificial, técnica muito utilizada para melhoramento genético do rebanho, além de ter o preço mais acessível. Infelizmente há algumas limitações da utilização dessa biotecnologia, como anestro pós-parto, falhas na detecção do cio e puberdade tardia. Devido a essas limitações, programas de melhoramento genético e produtividade visam a utilização da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), onde não há necessidade da detecção do cio. A IATF, é onde se realiza a inseminação artificial de acordo com o melhor e mais favorável momento para a fecundação, onde há possibilidade de realizar um protocolo de sincronização da ovulação com gonadotrofinas e prostaglandinas.

Para a realização da IATF são necessárias medidas preparatórias, como: 

- Mão de obra mais especializada

- Aplicar corretamente todos os fármacos em todos os animais e em todas as etapas
do protocolo

- Utilizar sêmen de boa qualidade (sempre optando pela avaliação prévia)

- Ter os animais no escore corporal adequado (4,5 em uma escala de 1 a 9)

- Observar o intervalo pós-parto dos animais

Os critérios que são utilizados para analisar o desempenho reprodutivo do rebanho, incluem:

- Determinação da estação de monta

- Altas taxas de prenhez

- Descarte de vacas vazias ou com problemas reprodutivos

Para a escolha do touro reprodutor e para selecionar seu sêmen, são avaliadas as Diferenças Esperadas na Progênie (DEP’s), onde é necessário avaliar o perímetro escrotal, aprumos, articulações sem defeitos, cascos, prepúcio curto (evitar incidência de parasitas e lesões no campo) e atributos que mostram tolerância ao calor (como pelagem curta e pele pigmentada). 

A libido e a capacidade de serviço também são fatores muito importantes. Após serem avaliadas as características externas, o veterinário avalia o sêmen para conhecer o potencial de fertilidade desse animal. Caso o animal tenha alguma anomalia andrológica, ele é desclassificado.   

As fêmeas também são avaliadas e precisam ter características que demonstram ter boa habilidade materna, sem contar outras características que também se enquadram nas DEP’s, como por exemplo idade ao primeiro parto, probabilidade de parto precoce, probabilidade de permanecer no rebanho, produtividade acumulada e outros fatores.

Vantagens e desvantagens da raça

Mais de 90% do rebanho brasileiro é composto pelo gado nelore, o que faz diversos produtores citarem suas vantagens e desvantagens na criação.

Vantagens:

- Longevidade reprodutiva;

- Carne de alta qualidade;

- Fácil e rápida engorda;

- Tolerância ao calor;

- Resistente à parasitas e doenças ;

Desvantagens:

- Sensibilidade ao manejo recebido;

- Alguns animais são reativos 

Dicas para a criação de gado Nelore

Para ter um bom rendimento na criação, primeiramente o produtor deve optar pelo tipo de criação, se será uma criação extensiva ou intensiva. A maior parte do rebanho brasileiro é criado de forma extensiva, ou seja, solto no pasto. Mesmo assim, existem possibilidades para melhorar e facilitar esse tipo de produção. 

O gado Nelore tem um ótimo aproveitamento de alimentos mais grosseiros, então eles aceitam muito bem refeições concentradas como farelo de soja, girassol, soja em grão e se alimentam muito bem com feno e pastagem. Alguns produtores ainda arriscam o azevém, que possui uma grande palatabilidade, é mais resistente a doenças e tem um maior potencial de produção, porém tem um custo maior que outros tipos de volumoso. 

Alguns proprietários optam por criar o gado em confinamento, podendo ser realizado em um galpão semiaberto ou completamente fechado, porém não é muito comum.

Por fim, mas não menos importante, deve-se analisar muito bem o tamanho de área em que esse plantel será criado. Apesar da raça ser resistente a variedade de clima e terreno, sua extensão precisa ser adaptada. Quanto menor a área de criação, mais intensivo devem ser os cuidados com o pasto, solo, cuidados com estresse térmico e outros. 

Referências

Fonte 1

Fonte 2

Fonte 3

Fonte 4

Fonte 5

Fonte 6

Author Photo

Luciana de Toledo (@lutoledovet)

Luciana de Toledo Rodrigues é Médica Veterinária formada pela Universidade Anhembi Morumbi.